Entao escolhi: Dogville.
Pareceu uma boa idéia, faz tempo, muito tempo que devo ver esse filme. Uma professora do 2° colegial me falou pra assisti-lo, e sò agora, 6 anos depois resolvo assistir.
Mas que momento oportuno eu diria.
Nada como um pouco de filosofia na minha vida engenheiristica para fritar o meu cérebro, mas tentarei aqui explicar o que eu
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contem spoilers e referencias sobre o filme, se nao viu, pode entender ou nao o que eu vou explicar ou nao. Desapegue...
Uma coisa que me incomodava era o Tom ficar toda hora falando o que Grace (Nicole Kidman) deveria fazer. Ele também se achava mais esperto do que todos em Dogville ("cidade" que se passa o filme) e ficava com um discurso barato de que queria mostrar a verdade pra todo mundo. Ele era arrogante, o primeiro tipo de arrogancia.
Com o desenrolar do filme, Grace me irrita, porque deixa todo mundo se aproveitar dela de todas as maneiras possiveis, com a desculpa que de podiam fazer isso sò porque estavam dando abrigo à ela na cidade.
Perai! Ou voce ajuda ou nao. Falar que vai ajudar e depois ficar jogando na cara: "voce deve fazer o que eu mando porque eu te ajudo" nao é nem um pouco altruista.
Quando Grace se ofereceu para ajudar, na primeira vez, ninguem aceitou a ajuda dela. Por que?
- todos eram orgulhos ou arrogantes demais pra aceitar a ajuda dela
- nao acreditavam que alguem estava se oferecendo pra ajudar sem mais nem menos, desconfiavam que ela pediria algo em troca, como eles fariam se fosse ela
Ah sim, fiquei muito brava quando quebraram as bonequinhas e a Grace nem esboçou uma reaçao alem de chorar... foi o unico momento que ela chorou, mostrando que ela se importava com o que ela tinha construido e aquela quebra fisica foi também a quebra dos laços que ela tinha com a cidade. Depois desse momento ela passou a nao gostar mais da cidade e passou a se importar com o seu proprio futuro.
Os 15 habitantes da cidade representavam quase todo tipo de gente e cada um tinha seu defeito/qualidade, mas nenhum foi capaz de fazer nada pra Grace de bom grado. Todos se sentiam superiores porque tinham poder de decidir se ela continuaria ou nao em Dogville.
A propria Grace foi qualificada como arrogante porque aceitava ser tratada daquele jeito por eles, se sentia superior porque os perdoava mesmo depois de lhe fazerem mal.
No final, conversando com o pai, ela tem um tipo de epifania e resolve, com o poder que tem, apagar a cidade do mapa. O unico sobrevivente é o cachorro e ela sai satisfeita de la, com a frase: certas coisas é preciso resolver voce mesmo.
O fim da cidade foi pra mostrar que ela resolveu descer do patamar da arrogancia dela e dar o troco em todos que a trataram mal. Ela se permitiu se igualar e deixou sua furia responder aos maus tratos e ao modo como foi usada. Sò sobrou o cachorro porque ele foi o unico que nao se aproveitou dela.
Conclusao: nao pode esperar que as pessoas lhe ofereçam ajuda para resolver seus problemas. Voce mesmo deve descobrir e agir para soluciona-los.
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Certa, superficial, infantil ou nao, sozinha eu cheguei até aqui.
Agora, pòs google, descobri que sò sobrou o cachorro porque ele era o unico autentico e outras coisas....
Antes de tudo, coloco esse trecho de uma entrevista do meu professor de Filosofia do colégio em relaçao ao filme, que encontrei sem querer:
"Dogville é uma cidade conservadora, pacata, apegada aos seus valores morais de forma tão sistemática que qualquer acontecimento capaz de quebrar sua rotina é motivo para uma reunião com todos os habitantes para se decidir o que fazer; um perfeito exemplo de democracia contemporânea. Tudo passa pelo voto coletivo, todos se tratam como iguais e se respeitam; mas diante de uma adversidade nenhum indivíduo decide sequer sua ação enquanto indivíduo. Não há espaço para o humano criativo em Dogville.
Grace, ao contrário, busca por sua humanidade, pois se encontrava em meio à família de gangsteres em situação semelhante, com a diferença de seu posicionamento em busca do humano, já que ela é capaz de fugir desta realidade e privilegiar sua solidão para ouvir a interioridade no silêncio."
IHU - Unisinos
Sò cliquei nesse site no google porque estava escrito Kierkegaard, dai lembrei que tinha ouvido esse nome na aula de filosofia... quem dava a aula? A mesma pessoa entrevistada no site.... OH MUNDO!
E alguns outros sites, (nao tao bacanas....):
1) "Percebe-se na construção da trama e no foco humanista do tratamento dos personagens influências de escolas de filosofia, especialmente as gregas. Por duas vezes cita-se nos diálogos os ensinamentos dos estoicistas, uma escola que pregava o abandono da emoção para vivermos sem dor. E muito da moral da história gira em torno da diferença entre o altruísmo - dar sem esperar nada - e o quid pro quo - que exige uma compensação equivalente para cada ação."
2) "Ao abdicar dos cenários e dos adereços, o diretor procurou valorizar o âmago de cada personagem para que o espectador, despojado do “supérfluo” e do “superficial”, pudesse olhar apenas para o que verdadeiramente interessa em seu filme: a desumanidade que “emana” da humanidade."
2) "Dentre as leituras possíveis de Dogville, a que trata o filme como uma parábola moral me parece ser a mais interessante. Nessa perspectiva, Dogville é uma “novela exemplar” sobre o comportamento humano, a vida em comunidade e a tensão que se estabelece entre a escolha individual e a norma coletiva. Na segunda parte do filme, de maneira completamente oposta à primeira impressão que Grace tem quando conhece os residentes da pequena cidade, os moradores revelam a sua vilania, representada através de pecados da natureza humana como: a vaidade (Chloe Sevigny), o orgulho (Ben Gazarra), a ira (Patrícia Clarkson), a luxúria (Jean-Marc Barr), a avareza (Lauren Bacall) e a inveja (Stellan Skarsgard). Desse modo, por trás do gesto de tolerância e compreensão coletiva, só haveria torpes interesses individuais."
2) "De maneira bastante moralista o filme afirma repetidamente, e de forma agressiva, que todos somos responsáveis pelos nossos atos, e se temos problemas é porque não fazemos o suficiente para resolvê-los. Assim, nossa ignorância e ausência de um verdadeiro interesse pelo coletivo, ilustrado em várias passagens, é a alavanca que causa dor e sofrimento a nós mesmos; como, por exemplo, na seqüência em que um morador é reprimido verbalmente pelos outros dentro da igreja, ao lembrar que eles nunca se ajudam."
"2) O gangster, na perspectiva que apontamos anteriormente, é um Deus severo e vingativo assim como no Antigo Testamento. Nesse momento, ela e o pai dialogam sobre a soberbia: Ela quer o perdão para os habitantes da cidade, como se dissesse "eles não sabem o que fazem". Deus a acusa de soberbia por fazer a concessão de perdoar quem lhe é inferior e lhe impingiu tanto sofrimento. Grace diz que o pai é soberbo devido à sua vontade de vingança e pede poder, que lhe é concedido, para salvar Dogville. Entretanto, ao sair do carro, e ouvir Tom "o intelectual" dizer que escreveria sobre o que se passou, que aquilo seria passível de análise, ela se desilude com a humanidade e purga Dogville com o aniquilamento"
2) "Uma leitura possível do personagem Tom é que ele representa tão somente a parte da sociedade intelectualizada que, no filme, sempre repete as mesmas coisas, confunde os outros com seus discursos vagos; mente para dar coerência às suas teorias e tem medo de uma inserção mais incisiva nos problemas sociais; os exemplos estão presentes em várias seqüências, como por exemplo, quando ela é estuprada próximo dele. A esperança que Grace tinha na humanidade se perde quando os que realmente poderiam fazer algo, o titubeante Tom, não fazem e reafirmam sua hesitação e passividade; uma crítica ao papel dos intelectuais como operadores sociais, que reforça a opinião do diretor: a humanidade não tem salvação."
2) "A mensagem na seqüência final, quando Grace ouve os latidos do cachorro chamado “Moisés”, é que o animal tinha um motivo para não gostar dela, afinal ela havia roubado seu osso. Ela permite que o cachorro fique vivo pois nele há algo que não havia nos habitantes de Dogville, o que era?"
2) "Em Dogville, Lars von Trier apresenta uma percepção pessimista da humanidade, onde impera o cinismo, a hipocrisia, a chantagem, a vingança, a mentira, e uma visão dogmática que, além de rejeitar qualquer alternativa, simplifica e naturaliza a maldade."
3)"Dogville é uma imagem distorcida do mundo cristão(...). A cidade é repleta de cidadãos que num primeiro momento se mostram pacatos, inofensivos e não tolerante ao diferente, ao que vem de fora, neste caso seria a Grace.
Grace (Graça, absolvição, anistia, dispensa, perdoar, absolvição, remissão, indulto) é um personagem que vem de uma classe social distinta. Ela é requintada, é a representação do Belo, do ideal(...). Ela, em certos momentos, lembra a caridade, a justiça, e o ócio.
Grace aparece como um presente, aquilo que vai despertar o interior das pessoas, o que vai perturbar as pessoas, o que vai causar mudança, movimento, vai acusar e revelar os simulacros.
Tom é uma espécie de profeta, (...) elabora pensamentos e trata de questões morais.
A cidade é hostil, num segundo momento, torna-se hospitaleira e depois hostil novamente.
Os habitantes avaliam se Grace é digna de co-habitar na cidade. Neste momento temos a suspeita de que a cidade é justa, integra e agrega valores morais.
Grace mostra uma capacidade de interferir e provocar mudanças estruturais nas pessoas. Ela é de criação arrogante, porém se mostra humilde.
O pai de Grace coloca a polícia para persegui-la, no caso a filha é uma subversora aos olhos do pai. Uma harmonia que se estabelecia começa a ser dissolvida e os personagens pactos se revelam, mostram o seu verdadeiro ser.
Os personagens parecem assumir novas formas, novos devires. A questão do ideal é quebrada, a questão da moralidade é suprimida. Ha uma espécie de entrega aos desejos.
Grace sofre injustiças, humilhações e explorações de forma mais apurada possível. Os personagens se mostram e se envergonham.
Os habitantes querem de volta a antiga vida onde regia o simulacro, a grotesco, a ficção. A lei é aclamada pelos moradores. A lei é o gangster, no caso o pai da Grace.
A lei representa naquele momento a força, a arrogância e a violência. A lei estabelece a ordem. A força não é pacífica é violenta, e arrogante.
De Grace podemos concluir que ela age segundo e se expressa de acordo com estímulos naturais e com seus desejos.
O filme tenta mostrar essa dificuldade do ser em agir desta forma, mostra a questão de refrear, reprimir os desejos e impulsos.
Grace mostra a possibilidade de agir segundo a própria vontade. O filme tenta mostrar também o íntimo devastador que se esconde por traz de cada pessoa. O que tem de imoral em cada pessoa.
No final destruí-los é o melhor a fazer, é um crime menor que construí-los. Destruir para estabelecer a ordem. Grace passa de anjo caído a anjo exterminador. Conclusão: A partir de uma analise geral do filme, podemos aqui detectar pontos de confluência com o conceito de nietzschiano de forte e fraco (ou espírito livre e espírito cativo).
Como já mencionado Grace tem muitos aspectos que explicitam a atitude do forte. Primeiro que ela leva seu pensamento, sua maneira de agir e consegue, em um dado momento abalar com as convicções e os hábitos alheios.
Ela é, na comunidade, o ser diferente e que traz mudanças, mudanças radicais e profundas. Ela consegue fazer sair do outro os desejos, os anseios. Ela sugestiona o outro a ser livre, livre de forma absoluta.
Grace é uma pessoa muito distante daqueles habitantes porque seus hábitos são livres e espontâneos, ela é sincera e audaciosa, pois sabe que pode mudar e quer mudar os outros, que são fracos de espíritos, agarrados a uma tradição homogênea.
Grace busca conhecer todos os moradores, conhecer sua tradição e seus detalhes. E é nesse ponto que Grace promove as desconfigurações e instaura o caos.
Na verdade, Grace quer romper com a inalterabilidade, com a pachorra que envolve Dogville.
Quando Grace conclui esse processo, ela é tolhida.
Os fracos percebem que não são mais os mesmo. Eles se vêem diferentes, alterados. Seus modos são diferentes do normal, do padrão, do ideal. Eles não estão agindo conforme as normas morais e ai que residi o problema, visto que, às vezes, as ações e o pensamento que não se pauta nos preceitos anteriormente citados, causam desordem e podem causar certos malefícios aos que aderem.
Os fracos no geral, não suportam viver sem uma forma de dominação, de controle, de lei, de algo que os institucionam.
Os fracos se sentem culpados por se entregarem sem restrições aos seus desejos e se sentem sujos, impuros, arrependidos.
E para concluir, o final aludi ao apocalipse. Todos os ímpios são friamente executados, são tirados da terra (Dogville).
E de Grace, podemos concluir que a mesma se faz parece com Jesus Cristo, pois a mesma é livre, não cede a condições adversas e é indiferente às condições humilhantes a que é submetida. E nesse sentido ela deveria ser protegida, como acontece (no momento final quando o pai de Grace a encontra no vilarejo), dos fracos, esses que são um perigo para a existência dela.
Os hábitos de Grace são muito arrojados e perturbam a consciência do fraco que se sente incomodado e deseja suprimi-la na medida em que este (o fraco) se sente deslocado, desterritorializado, sem rumo, desatinando.
Em fim, podemos notar que o filme é muito semelhante, no que toca os conceitos de fraco e forte nietzschiano. A obra é muito cifrada, mas permite essa interpretação. "
Fontes:
1) Wikipedia
2) espaço academico
3) filosofia UERJ
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